18.2.07

A propaganda e a coleira do cão.

A chegada do capitalismo tardio e o advento das novas tecnologias de comunicação trouxeram consigo uma revolução na maneira de se fazer propaganda. A retórica publicitária esquece o discurso informativo do “porquê comprar” para valorizar uma persuasão baseada no discurso emocional. O convencimento pela sedução passa a ser a técnica principal do bombardeio publicitário diário contra a comunidade global. No outro lado do “front”, indivíduos desavisados sucumbem às mais variadas espécies de tentações e estímulos sensoriais. Boa parte dos bombardeados não percebe as armadilhas a que estão prestes a cair a todo o momento. É a dialética da propaganda: barulhenta no seu ataque, silenciosa em seus estragos. À surdina, a nova propaganda emotiva (não tão nova assim) garimpa passo a passo o acesso aos desejos e anseios mais íntimos e sinceros do seu público-alvo. Tudo acontece assim, sem muita conversa, à velocidade do pensamento. Não há papo, apenas sensualidade. O objetivo da propaganda é o de fugir o máximo possível da articulação racional. Ela teme a razão como o diabo teme a cruz. A propaganda busca o adestramento do sujeito, não a sua autonomia. Assim, ela nega a própria essência do ser sujeito: a sua atividade. Ela o quer objeto, coisificado, útil. Ela inverte a máxima kantiana que diz que o homem deve ser fim, nunca meio. O consumidor ideal é o consumidor passivo. Um animal de estimação, com quem não há código lingüístico, pensamento ou reflexão. Um dependente cão domesticado, inteiramente atento aos mais recentes estímulos sensoriais. A propaganda é a negação do homem. É a tentativa de superar a razão apelando de modo rasteiro para a emoção, para os sentimentos. É a tentativa de manipular a volição do indivíduo através de estímulos sensoriais. É a tentativa de domesticar o ser racional, partindo do pressuposto de que ele é passível de ser domesticado.

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