21.2.07

Em busca da essência do erro político. Uma pergunta inacabada.

A busca pela pergunta fundamental de uma questão, seja ela qual for, me parece ser o atalho mais rápido para a conquista de uma resposta prestável. Dentro da problemática política, uma pergunta que de vez em quando surgia para mim era a que indagava a possibilidade ou não de existir uma lei necessária, humana, natural que causaria o ser humano, quando posto em uma situação de poder, como mais preocupado em manter este poder do que em realizar ações que beneficiem a comunidade que lhe rodeia. Tudo bem que a necessidade de se trabalhar em prol do outro (que significa também trabalhar em prol de si mesmo) varia de acordo com a personalidade de cada um. Mas se situarmos nosso exemplo em uma pessoa que esteja ocupando um cargo político, a obrigação de priviliegiar o bem comum sobre o bem particular deixa de ser apenas um dever moral, interno, para se tornar também um dever funcional, externo. Nesse sentido, situa-se a pergunta. Uma pessoa que ocupe um cargo público, político, no momento em que veste a batina do poder, terá como prioridade a sua manutenção neste poder ou a boa execução da função a qual ele foi designado?

De fato, essa indagação cheira a positivismo barato. Não podemos extrair leis fundamentais e universais a partir do conhecimento empírico, como manda o velho manual da Lógica. Mas algumas experiências que possuímos não deixam de perturbar nossa razão. É normal que o indivíduo político se preocupe com a manutenção de seu cargo, mas daí não podemos tirar nenhuma lei natural que afirme que ele colocará necessariamente o seu próprio umbigo como prioridade suprema. O bom senso nos leva a crer que existirão alguns que se preocuparão mais com as suas necessidades particulares e outros menos. Assim como alguns olharão mais para o bem comum do que para o particular. O problema de procurar leis naturais nessa representação coletiva que chamamos de mundo é que, se existirem leis físicas que controlam as relações humanas, ainda estamos bem longe de uma compreensão mínima delas.

Mas então qual seria a pergunta apropriada para começarmos a compreender os fundamentos essenciais de como acontece a política e as relações de poder no homem? Talvez o individualismo puro e simples esteja próximo da pergunta que procuro. Mas seria ele a raiz de todo o problema político ou apenas um sintoma, um efeito que pressupõe uma causa anterior? Não sei se consigo retroceder a uma causa anterior ao individualismo, mas de fato, ele parece estar relacionado ao problema da política. A indiferença com que trata os problemas que não afetam diretamente a sua individualidade, torna o individualista um homem incompatível com a carreira política. Mas como lutamos contra o individualismo? Como evitar que essa característica comum da percepção do homem, que é sujeito, ou seja, só percebe o mundo através de um ponto de vista, não se prolifere?

O homem, pela percepção dos sentidos só possui uma opinião: a sua. Mas através da razão, ele pode compreender inúmeras opiniões e sentimentos. Ele pode se colocar no lugar do outro. Daí o conceito de alteridade. A possibilidade do homem de ver os companheiros de existência como "outros-eu". Aqui vemos uma maneira de confrontar o individualismo: com o correto uso da razão.

Mas aqui, precisamos fazer uma diferenciação. Pensamento, essência do homem. Reflexão, construção do homem. A primeira é intrínseca a todos os homo sapiens sapiens. A segunda, é resultado do esforço de pensar reflexivamente. Por isso se chama refletir. O pensamento que pensa a si mesmo. Chegamos na porteira da educação. É possível ensinar a raça humana a refletir? É possível educar o homem?

18.2.07

A propaganda e a coleira do cão.

A chegada do capitalismo tardio e o advento das novas tecnologias de comunicação trouxeram consigo uma revolução na maneira de se fazer propaganda. A retórica publicitária esquece o discurso informativo do “porquê comprar” para valorizar uma persuasão baseada no discurso emocional. O convencimento pela sedução passa a ser a técnica principal do bombardeio publicitário diário contra a comunidade global. No outro lado do “front”, indivíduos desavisados sucumbem às mais variadas espécies de tentações e estímulos sensoriais. Boa parte dos bombardeados não percebe as armadilhas a que estão prestes a cair a todo o momento. É a dialética da propaganda: barulhenta no seu ataque, silenciosa em seus estragos. À surdina, a nova propaganda emotiva (não tão nova assim) garimpa passo a passo o acesso aos desejos e anseios mais íntimos e sinceros do seu público-alvo. Tudo acontece assim, sem muita conversa, à velocidade do pensamento. Não há papo, apenas sensualidade. O objetivo da propaganda é o de fugir o máximo possível da articulação racional. Ela teme a razão como o diabo teme a cruz. A propaganda busca o adestramento do sujeito, não a sua autonomia. Assim, ela nega a própria essência do ser sujeito: a sua atividade. Ela o quer objeto, coisificado, útil. Ela inverte a máxima kantiana que diz que o homem deve ser fim, nunca meio. O consumidor ideal é o consumidor passivo. Um animal de estimação, com quem não há código lingüístico, pensamento ou reflexão. Um dependente cão domesticado, inteiramente atento aos mais recentes estímulos sensoriais. A propaganda é a negação do homem. É a tentativa de superar a razão apelando de modo rasteiro para a emoção, para os sentimentos. É a tentativa de manipular a volição do indivíduo através de estímulos sensoriais. É a tentativa de domesticar o ser racional, partindo do pressuposto de que ele é passível de ser domesticado.